Fonte: César Carneiro, professor.
Sim, nós podemos. Yes, we can.
Esse refrão quase bíblico, um mantra disparado pela internet nos vídeos do you tube e reverberado em estádios de beisebol e futebol americano com dezenas de milhares de pessoas resume a eleição do primeiro presidente negro dos Estados Unidos.
E o que isso tem a ver conosco? Mais do que pensamos, menos do que queríamos, talvez. Simbolicamente, muito tem sido dito sobre essa vitória. A análise do presidente Lula foi a mais precisa: o significado da eleição de Obama segue a dimensão do significado da eleição do torneiro mecânico no Brasil, do índio na Bolívia, do padre no Paraguai. Lula está pleno de razão. Muniz Sodré, baiano aqui de São Gonçalo dos Campos, que veio recentemente inaugurar as bibliotecas de Zé Ronaldo, diz que o povo se move por rituais e símbolos. Obama é um. Pop-star. E, embora a imprensa brasileira queira desmistificar o fato do senador ser negro, dizendo que foi eleito pelos brancos, que foi eleito mais por uma rejeição a Bush e pela crise econômica, o simbolismo de sua cor faz com que haja festa no Quênia, terra natal do seu pai e no Bar do Reggae, no Pelourinho, como aconteceu nessa madrugada do dia 05 de novembro.
Os democratas americanos sempre foram mais liberais que os republicanos. Estão à esquerda destes (sim, ainda há esquerda e direita, apesar de uns negarem). Obama é à esquerda dos democratas. Vai ter de governar com o centro. Mas vai ter de governar também com os jovens. Com a internet, que o ajudou a eleger e que arrecadou mais de 3 milhões de dólares de toda a gente. Como diz um amigo meu que mora em Seattle: ah, mas aí no Brasil precisaria ter uma rede que cobrisse todo o país, e que fosse em banda larga. Por isso que tenho tanto carinho pelas lan houses que pipocam pelas periferias afora. E zona rural também. Tem uma acho que em Jaguara ou Jaíba, logo na entrada da vila. Por isso olho com atenção o projeto dos Centros de Cidadania Digitais do Professor Ildes Ferreira, Secretário de Ciência e Tecnologia do Estado da Bahia, que tem espalhado mais de 900 lan houses gratuitas por essa Bahia afora. Você pode dizer que os garotos só vão entrar lá para consultar orkuts, msn, etc. Mas também para pesquisa escolar, o google, ainda que no ctrl-C ctrl-V. É que o mundo está ali, a um clique. E não sou eu, nem você que tem mais de 30 anos que vai entender como essa geração vê esse mundo através da rede e o que eles podem fazer com ele. Hoje eles mostraram a que podem: Obama venceu entre os mais jovens (18-29anos) com 66%. Hoje, os jovens norte-americanos, criados na internet elegeram o presidente.
E o que isso tem a ver com Feira, repito?
Bem o partido do Prefeito atual e eleito também se chama democrata. E a semelhança não vai muito além disso. A América sempre foi uma referência para o PFL ideológico (sim ele existe, não é só o fisiológico que se sustenta. O DEM tem identidade ideológica). Desde Reagan, o PFL buscou nos modelos neo-liberais anglo-saxões a justificativa da modernidade para trazer ao Brasil. Particularmente na Bahia, laboratório dessas experiências via ACM, vimos a Coelba e o Baneb serem privatizados, políticas de estado mínimo serem implementadas e, apesar de algum sucesso contábil nos primeiros anos do carlismo recente (1990 pra cá), chegar à bancarrota que o Governo Wagner encontrou, cujo exemplo mais gritante foi a EBAL. Na mudança de nome, numa tentativa de suavizar a pecha direitista e renascer o partido, emprestaram dos eternos ídolos americanos o nome de um dos partidos, na vã esperança de respirar novos ares. Acho que Republicanos vestiria melhor no figurino pensante do PFL.
Pois bem, senhores democratas tropicais, o fim da era Bush nos EUA significa o fim do modelo conservador que invadiu inclusive a mídia nativa com os chamados “neocons” (nos EUA: pensadores ex-trotskistas que chegaram ao poder com Bush; No Brasil: “colonistas” de grandes veículos da mídia (Veja, Folha de São Paulo, Estadão, Globo) como Reinaldo Azevedo, Diogo Mainardi, Alexandre Garcia, Miriam Leitão e outros menos cotados). Estes senhores ficaram agora sem a referência: O que é bom para os EUA agora continua sendo bom para o Brasil? E Feira? A frase anterior vale para o Democratas baiano, que se ainda tiver gente pensante (tem uma burocracia compentente, de fato) tem que repensar seus modelos.
Numa análise preliminar, a guinada americana tem influência ainda, sobre as próximas eleições presidenciais brasileiras. Obama, que anunciou reduzir as sanções contra Cuba, e que vai devagar no tratado de livre comércio com a Colômbia, é um homem tipo Lula: conciliador. As benesses pleiteadas pelos conservadores brasileiros, que Bush, por mecanismos diversos, estimulava, serão drasticamente reduzidas. Como diz Eduardo Guimarães, bloguista do Viomundo (aliás, os blogs foram fundamentais para a vitória de Obama), a guerra fria na América Latina acabou. Assim, serristas, PIG (Partido da Imprensa Golpista), PSDB, e Democratas do sul do Equador, ponham as barbas de molho. A direita perdeu seu modelo.
Sim, nós podemos.
Em tempo: na TV, vejo um grupo de teenagers sem idade para votar, paradas com cartazes numa esquina de Chicago, indicando para onde foram mudadas as urnas, apenas pelo prazer de participar da eleição. Como disse o repórter, nessa eleição, os jovens mostraram o caminho.
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