O promotor de Justiça do estado de São Paulo Augusto Rossini, que participou das negociações durante o seqüestro, afirmou que a legislação deve diferenciar, com urgência, o que é sigilo do que é censura para que novos episódios como esse não venham a ocorrer.
O professor da Universidade de Brasília (UnB) Venício de Lima defendeu o aprofundamento do debate do controle da sociedade sobre a mídia. Na opinião dele, não cabe a emissora se proteger atrás da liberdade de expressão para mostrar conteúdo impróprio aos telespectadores das tevês abertas.
Controle do Congresso
O autor do requerimento para a realização da audiência, deputado Ivan Valente (Psol-SP), anunciou que vai propor alterações na legislação para que o Congresso Nacional possa exercer maior controle social das emissoras. Outro ponto que precisa ser alterado, na opinião do parlamentar, é a necessidade de revisão da concessão das tevês a cada dez anos, com análise do conteúdo apresentado pelas emissoras.
Ivan Valente ressaltou que as emissoras de televisão são concessionárias do Poder Público e devem, por isso, prestar um serviço à sociedade. O deputado também criticou os que defendem a liberdade de expressão como forma de veicular todo tipo de notícia. "Isso é um grande álibi para a liberdade total de mercado, que é a liberdade de defender conteúdos em que a audiência prevalece como único critério para a cobertura jornalística em prejuízo do interesse público, dos direitos do cidadãos, dos direitos das crianças e dos adolescentes, como foi explicitamente nesse caso", avaliou.
Para o deputado, além dos erros cometidos pela Polícia Militar (que não enviou representantes para a audiência), a ampla cobertura dada pela mídia, com entrevistas do seqüestrador pelo celular, tornaram o seqüestro mais longo e desnortearam ainda mais o criminoso, já seriamente desequilibrado.
Constrangimentos
A representante do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), Maria Luiza Moura, concordou com o excesso das emissoras. Para ela, a mídia desrespeita os direitos das crianças e adolescentes que, por causa da exposição, têm suas vidas comprometidas por muito tempo.
Ela citou como exemplo dessa "ação perniciosa" o caso da menina que foi mantida em cárcere privado em Goiás e hoje vive em outro estado para não sofrer constrangimentos ao ser reconhecida nas ruas.
TVs se defendem
Os representantes de emissoras de TV negaram ter cometido excessos na cobertura do caso Eloá e defenderam liberdade de expressão. O vice-presidente de Relações Institucionais das Organizações Globo, Evandro Guimarães, afirmou que todos os princípios éticos foram respeitados na cobertura do caso. Já o diretor corporativo da Rede Record, Márcio Novaes, ressaltou que impor qualquer controle sobre a veiculação de notícias representa um retrocesso na liberdade de expressão. Somente as duas emissoras de televisão compareceram à audiência.
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