presenteia Dom Itamar (à esquerda) com um dos seus livros.
Nesta quarta-feira (25), na Catedral de Sant`Ana, minutos antes da celebração da missa em Ação de Graças pelos 150 anos da Santa Casa de Misericórdia – Mantenedora do Hospital D.Pedro de Alcântara de Feira de Santana e do Cemitério Piedade – tive a oportunidade de entrevistar o professor português Dr. Antonio Abreu Freire, 66 anos, investigador, navegador e escritor que realizou uma expedição marítima comemorativa dos 400 Anos do Padre Antonio Vieira*. Nesta arriscada aventura ele refez, com mais quatro tripulantes, os percursos do jesuíta português, em 2007/2008, no veleiro sueco de 14 metros Cruzeiro Histórico Identidade e Cidadania- CHIC.
Ele me falou com um sotaque português não muito carregado, sobre a promoção dos seus livros em Feira, reforma ortográfica, sobre o Pe. Antonio Vieira e, naturalmente, sobre esta expedição que partiu da cidade de Aveiro-Portugal em 17 de março de 2007, chegando a Salvador na Bahia, 43 dias depois após sua partida. Viagem que percorreu ainda Fernando de Noronha, Recife, Ceará, Camocim, São Luís do Maranhão e Belém do Pará. Confira na sua entrevista que o regresso pelas Caraíbas e Bermudas foi cheio de aventuras até chegar a Aveiro a 7 de Março do ano seguinte.
PROF.DR.ANTONIO ABREU FREIRE
Por Maria José Esteves
O que o traz ao Brasil e especialmente a Feira de Santana?
A promoção dos meus livros - tenho publicados quatro livros que falam sobre o Pe.Antonio Vieira resultado da viagem que fiz em 2007 e 2008 - e também uma exposição que está em Salvador na Universidade Católica que se chama “Passos de um Gênio”, sobre o Pe. Antonio Vieira.
Especialmente a Feira de Santana por coincidência de amigos que são amigos do Dr. Moura Pinho que me convidou para vir aqui porque há interesse por parte dos universitários para saber mais sobre o Pe.Antonio Vieira que infelizmente ainda se sabe pouco sobre ele, suas capacidades diplomáticas e suas aventuras pelo mundo. Estarei no CUCA, às l7 horas de quinta-feira,( dia 26 ), num encontro que é coordenado pelo advogado Moura Pinho, diretor da DIREC de Feira de Santana e pelo jornalista e poeta Franklin Maxado.
O Sr. considera “O Diário de Bordo”, que relata sua aventura refazendo os percursos do Pe. Antonio Vieira, como sua obra mais importante?
Não. O “Diário de Bordo” faz parte de uma literatura que é a literatura de viagens. É o dia-a-dia de uma viagem feita por quatro pessoas em bordo de um pequeno barco a vela, que durou o ano inteiro. São relatos das aventuras diárias e as descobertas dos espaços por onde andou o Pe.Antonio Vieira. Acho que o meu livro mais importante, pelo menos o que a crítica assim o achou, é “Pe. Antonio Vieira, Os Sermões de Santo Antonio”.
Por falar em literatura, o Sr. conhece alguma obra literária feirense?
Tenho paixão pela literatura de cordel, estudo literatura de cordel portuguesa e brasileira. Claro que Flanklin Machado é um nome, um máster. A minha área principal de trabalho é física, o ensino da física, da matemática, da ciência, mas me preocupo com as letras, com a literatura como um hobby. Foi através do ensino da história da física, da química, que passei naturalmente às ciências humanas.
Por que esta decisão em homenagear os 400 anos do Pe. Antonio Vieira?
O Pe.Antonio Vieira fez tantas coisas que estava para além do seu tempo. Foi pioneiro na formulação do que é globalização, por exemplo.Ele imaginou o Quinto Império. No seu tempo era uma idéia que estava por nascer no século seguinte. Era um homem à frente do seu tempo. Por isso ele sofreu, foi preso por defender a liberdade dos indígenas no Maranhão, foi preso por se aproximar dos judeus, por defender irmandade religiosa, o retorno dos judeus ao Rei de Portugal e isto ele fez por razões práticas. Era para salvar o país da miséria, sua independência em relação à Espanha. Sofreu por patriotismo. Foi um homem extremamente corajoso, foi um visionário, um patriota que contribuiu para a unificação do Brasil criando missões no Maranhão, no Grão-Pará, criando locais estratégicos que permitiam a comunicação por terra já que por mar não era possível ir do Norte para o Sul. Enfim, ele acreditava que havia um futuro para o país que ele tanto amava.
Durante esta sua aventura qual o pior, o mais bonito e o momento mais marcante?
Foto:Divulgação
A viagem inteira foi muito bonita, foram 356 dias de viagem e deu pra ver muito e rever os passos por onde o Pe. Antonio Vieira andou. A viagem teve seus percalços graves. Fomos atacados a mão armada por três vezes: Em Cabo Verde na África, no Pará aqui no Brasil e curiosamente na chegada a Portugal. O pior foi em Cabo Verde que nos levou computador, passaportes, dinheiro, filmadoras. Foi muito complicado e um susto muito grande. Outro susto muito grande foi o furacão Olga que pegamos no regresso e que virou o barco completamente. Causou-nos muitos estragos, tivemos que praticamente refazer o barco nas Bermudas e quando chegamos a Portugal verificamos que não havia mais recuperação possível.
E qual o lugar aqui no Brasil que o Sr. considerou o mais bonito?
Em termos de beleza física diria que a Bahia. Para quem chega de barco a Ilha de Itaparica, a Baía de Todos os Santos, subir o Rio Paraguaçu até Cachoeira, é algo absolutamente fantástico.
Agora existe uma outra beleza, por exemplo no Pará e o Maranhão que não tem a beleza da Bahia pois lá é monótono. É vegetação, é verde, aquela água leitosa, mas é o Pará é o Maranhão, é a grandeza, é o espaço imenso, aquelas malocas, aquela gente simpática e sobretudo é o espaço por onde o Pe.Antonio Vieira andou no período mais complicado de sua vida quando ele foi um Bandeirante, praticamente um pioneiro. Veja você, ele viajou cerca de quatro mil quilômetros em canoa, com índios a remar. Nós tínhamos um barco com água quente ou fria, ar condicionado, cozinha elétrica, GPS, rádio, controle por satélite...poxa, é um luxo!Ver aquele espaço por onde ele andou sem nada disso, apenas com uma canoa grande, feita de tronco de árvore, com tripulação só de índios e fazer viagens para o Tocantins, Araguaia, até altura da Paraíba é preciso ser mesmo um gênio.
Em sua opinião em que somos mais parecidos com nossos irmãos portugueses e no que somos mais diferentes?
Somos mais parecidos na língua, na emoção, saudade e na maneira de sentir. A diferença que os brasileiros tem uma criatividade fantástica. O Brasil é um país com quase 200 milhões de habitantes com uma média de idade inferior a 23 anos. Portugal é um país com 1º milhões de habitantes com uma média de idade superior a 45 anos. Aí está a grande diferença. O Brasil está na época da criatividade. No futuro, em relação a língua portuguesa, seremos 500 milhões daqui a trinta e poucos ou quarenta anos no mundo a falar o português e é o Brasil quem vai comandar esta nau.
E por falar em língua portuguesa, o que o Sr. acha da reforma ortográfica que envolve países como o Brasil e Portugal?
Em Portugal algumas reações negativas sobretudo porque vai trazer custos para correções nas editoras. Temos que pensar exatamente naquilo que acabei de dizer: seremos 500 milhões e todos precisam de uma ortografia organizada para que possamos nos entender melhor e melhor nos situar em relação aos outros. Os franceses, os ingleses tem ortografia unificada. Nós somos a terceira língua latina do mundo e a terceira língua comercial do mundo e temos que ver o que nos espera o futuro e não os problemas das editoras que não querem perder algum dinheiro e teimam em não se habituar às novas normas de escrita.
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2 comentários:
Achei muito interessante esta sua entrevista. Obrigado por nos proporcionar coisas diferentes nesta imprensa feirense.
Este professor é sensacional, uma figura muito sábia. Sou professor de História e tambem leio muito sobre o Pe.Antonio Vieira.
Parabéns pela entrevista.
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