segunda-feira, 30 de março de 2009

A ponte Salvador-Itaparica e os pessimistas de plantão

A Bahia não pode jogar fora um patrimônio como a Ilha de Itaparica, um potencial turístico invejável. É preciso se pensar grande, se pensar no futuro das gerações e no desenvolvimento do Estado.

Incríveis - e às vezes até chocantes – são as bobagens que têm saído na mídia sobre a idéia, o projeto, o pensamento, sabe-se lá o quê, do Governo do Estado em construir a ponte Salvador-Ilha de Itaparica. Depois que o governador Jaques Wagner fez o anúncio da ponte, na última segunda-feira, passou a ser bombardeado insistentemente pela imprensa, especialmente por alguns programas de rádio.

Parece até coisa orquestrada.

A Bahia pensa pequeno demais! Ora, a construção da ponte sempre foi um desejo quase que unânime. Veranistas, turistas e até os nativos, cansados com a pobreza, o abandono e, principalmente, com a precariedade do transporte entre a capital e Itaparica, sempre se manifestaram a favor da ponte. E a mídia, principalmente a mídia, muito mais ainda.

Como é que agora estão todos contra? Alguns utilizam os argumentos corriqueiros de sempre como justificativa. Tipo: "O governo devia colocar esse dinheiro da ponte na área de saúde". Outro: "A ponte vai esculhambar a Ilha" ou "O projeto é inviável porque não tem área em Salvador para escoamento do tráfego"..."O governador está querendo fazer marketing para se reeleger"..."Isso é factóide de Wagner", etc, etc, etc.

Porém há um outro comentário que merece registro especial. Um jornal de grande influência da capital opinou que o dinheiro da ponte daria para comprar 35 ferry-boats do tipo "Ivete Sangalo", que segundo o autor da matéria custou R$ 35 milhões (será?). Seria, então, uma "ponte" de "Ivetões".

Sim, e daí? Onde é que atracariam esses 35 ferries? Existe demanda para tanto? Existem áreas nos terminais de São Joaquim e Bom Despacho para construção de gavetas de atracação?

Ora, ora! Todos sabem que o sistema ferry-boat está estagnado e foi sucateado desde que em 1996, o governo Paulo Souto decidiu entregá-lo a um consórcio paulista formado por empresários de ficha suja, que estão sendo procurados pelo Ministério Público, acusados de desvio de dinheiro e de formação de quadrilha.

O ferry-boat, para quem não sabe, foi criado em 1972 por Luiz Viana Filho apenas para transportar veículos na travessia Salvador-Bom Despacho e se transformou em um transporte de massa. Com a estrutura atual, não pode operar com mais de 8 embarcações por falta de gavetas. Se existirem 10 ferries, por exemplo, todos ao mesmo tempo em tráfego, no momento da atracação terão que esperar no mar para poder completar a operação, o que causaria atraso na viagem. Além disso, a demanda de passageiros e veículos no sistema é sazonal - precisa-se de muitos navios em tráfego no verão, mas no inverno até dois ou no máximo três são suficientes. Então, ninguém vai fazer investimento em navios, em mais dois, três ou 35, como calculou o jornal, para ficar parados no mínimo 8 meses no ano.

Mais ainda: ninguém suporta mais esta história de ferry-boat. Trata-se de um sistema totalmente inconfiável e todos têm consciência disso - tanto a população como o Governo do Estado. E a ponte em hipótese alguma inviabilizaria a travessia de passageiros das linhas Salvador-Bom Despacho e Salvador-Mar Grande, que poderia funcionar normalmente como transporte complementar, desde que operadas com embarcações apropriadas, de porte médio, modernas e velozes. A travessia Rio-Niterói não acabou depois da ponte que foi construída ligando as duas cidades. Ou acabou?

Seria mais prudente, mais democrático e mais inteligente, portanto, que em vez de se ficar criticando a iniciativa ou o desejo do governador Jaques Wagner, que se ouça os técnicos especializados no assunto, pois só assim se chega à conclusão de que o projeto é ou não viável.

Não acreditamos, sinceramente, que uma construtora como a Norberto Odebrecht, com o nome que tem, tenha feito há 30 anos um projeto ou esboço, com maquetes e detalhes técnicos da ponte Salvador-Ilha de Itaparica, com análise de todos os impactos possíveis e impossíveis, para enganar o governo da época. O projeto tramitou em alguns órgãos do governo estadual, como o Departamento de Portos e Vias Navegáveis (DPVN) e Companhia de Navegação Bahiana, ambos extintos. A Odebrecht informou que não dispõe mais, em seus arquivos, do material que compôs o projeto, o que é uma pena.

Não acreditamos, também, que o governador Jaques Wagner tenha sido precipitado ou esteja fazendo uma jogada de marketing para usá-la na campanha de 2010. Seria um tiro no pé, neste caso. Ninguém é inocente para não saber que a obra é difícil, exige muito estudo, mas que poderá se tornar uma realidade, desde que haja comprometimento dos governos - estadual e federal - e, principalmente, recursos. A crise econômica mundial está aí, sim, mas não vai durar a vida inteira.

A Bahia não pode jogar fora um patrimônio que tem, como a Ilha de Itaparica, um potencial turístico invejável, que está lá abandonada há pelo menos duas décadas, sem qualquer infraestrutura para receber visitantes, com o comércio quebrado, sem segurança e com os nativos sobrevivendo da pesca de mariscos como há um século. Tudo isso, sim, é uma esculhambação e uma vergonha para um Estado como o nosso e não a construção da ponte Salvador-Itaparica.

É preciso se pensar grande, se pensar no futuro das gerações e no desenvolvimento da Bahia. Não é possível se pensar na Ilha apenas como local para curtição, para bagunça e para o turismo de farofa. A Ilha de Itaparica precisa de empreendimentos de porte - o Mediterranée está lá, sozinho -, para gerar emprego e renda para o seu povo. Precisa de faculdades, de segurança e de um comércio forte.

Com certeza, nesta economia globalizada que está aí, a Ilha de Itaparica jamais vai atrair investimentos sem ter uma ligação com Salvador à altura de um Estado desenvolvido.
• Por Equipe Jornal da Mídia

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