Próximo de sabermos o resultado da decisão do Supremo Tribunal Federal no que se refere à obrigatoriedade do diploma para exercer o jornalismo, vou salientar a importância do possível resultado favorável aos graduados e defrontar alguns argumentos de quem considera irrelevante a graduação na área.
Um dos principais clichês no que se refere ao jornalismo é que “a imprensa é o quarto poder”. Logo atrás do Executivo, Legislativo e Judiciário. O motivo para tal força é a capacidade de formar opiniões, derrubar gigantes e construir um castelo onde não havia nada. Metáforas que simbolizam muito bem a profissão jornalística e o seu alcance.
A obrigatoriedade do diploma, que é uma ação que se discute há muito tempo e talvez agora se torne real, serve como forma de regularizar a profissão, transmitir respeito – pela qualidade -, porque, desculpe-me os não-formados, mas tem muitos “jornalistas” que não sabem escrever um parágrafo inteligível, e selecionar os profissionais.
O processo acadêmico leva o estudante a conhecer as teorias e as suas aplicabilidades na prática, promove o conhecimento que é essencial para que se consiga exercer a profissão de maneira séria e consciente. Creio que é por esse motivo que, nos últimos anos, muitos não-formados estão procurando fazer um curso de graduação.
Defendo a obrigatoriedade do diploma e defronto alguns argumentos que li recentemente na mídia que são contra esse progresso da imprensa brasileira.
DefesaÉ claro que na faculdade de jornalismo nem todos serão bons profissionais, como ocorre também em outros cursos, como Direito, Física, Letras e até cursos de saúde, em que o erro pode ser fatal (e eu considero o erro jornalístico também uma catástrofe). No entanto é fundamental o estudo aprofundado da atividade que você vai exercer, as experiências empíricas promovidas pela Universidade, os debates, as tentativas e os erros. Isso tudo é feito no período acadêmico, e assim reduziria consideravelmente as besteiras jornalísticas que estamos habituados a ver, onde é perceptível a falta de bom-senso e compromisso com o leitor.
Li também que antigamente não existia cursos de jornalismo e mesmo assim já havia a imprensa, e alguns meios de comunicação com qualidade. Certo, argumento interessante. Mas quantos cursos de graduação havia mesmo na época remota dos anos 70? Quantos cursos surgiram nos últimos 20 anos devido à necessidade de se criá-los? Seguindo essa linha de raciocínio, penso que nenhum curso deveria surgir a partir dessa época, porque são todos irrelevantes. Desculpem-me os engenheiros ambientais, os biomédicos, os engenheiros de alimentos, entre outros diversos cursos que vimos e concordamos que realmente foi necessário existirem.
Os meios de comunicação vêm evoluindo tecnologicamente nos últimos anos, principalmente após o advento da internet. Há facilidades no processo gráfico, de impressão, de transmissão (como nas TVs e rádios), entre outros fatores que fazem surgir também novos produtos, mais profissionais, e uma falta de controle da qualidade desses meios que interferem diretamente na cultura e informação da população. A graduação surge como a base crucial desse crescimento, promovendo - que no pior dos casos seria um trabalho mediano - a evolução qualificada da comunicação, tanto na prática, quanto em pesquisas.
Argumentar que “em países como EUA, Inglaterra, entre outros, não possuem obrigatoriedade de diploma para jornalismo” é uma grande precipitação, porque em países de primeiro mundo como EUA, França, Inglaterra, Suécia, onde a população analfabeta é inferior a 10%, talvez não haja necessidade de diplomas para se exercer o jornalismo. Porém, no Brasil onde o analfabetismo funcional atinge 21,6% da população brasileira, segundo levantamento feito pelo PNAD 2006, que somados aos 10% da população que é totalmente analfabeta, chega a um total de 31,6% da população do país que não possui o domínio da leitura, da escrita de das operações matemáticas, sejam necessárias adotar outras medidas. Nesse caso as comparações são absurdas. Isso sem contar a qualidade das escolas de base e outros fatores relevantes para educação.
Mas vamos olhar pelo lado positivo. Quantas vezes o Brasil deu o pontapé inicial e estipulou conceitos acatados por outros países? Ruim para eles que não possuem a lei. Essa é uma decisão de vanguarda e não é porque meu vizinho sai com um pitbull sem coleira que eu vou sair com o meu também. Cada nacionalidade tem sua precisão e a nossa, para se qualificar, manter o profissionalismo e o respeito do jornalismo é imprescindível que haja essa mudança.
No entanto, também argumentam que o que é fundamental para se exercer o jornalismo não se aprende na Universidade/Faculdade. Concordo plenamente que o jornalista tem que ter algumas virtudes próprias, como a curiosidade, o “faro jornalístico”, gostar de escrever. Nesse caso, eu indico a esses indivíduos que entrem no curso de jornalismo e se aprofundem na área, porque na academia ele vai ser lapidado até estar pronto para o mercado de trabalho. Mas se tal pessoa já adentrar na profissão sem ao menos saber o que ela é e qual “poder” ela tem, será um grande fardo até realmente estar pronto para o trabalho. E repito, os erros jornalísticos são uma catástrofe.
É como eu, tendo boas características para me tornar advogado, começo a exercer a profissão sem passar pela Academia. Ler os livros, a Constituição e pronto. Posso advogar. Claro que não. Eles têm um Conselho (OAB), e antes disso, tem que passar, no mínimo, pelos 5 anos do curso de Direito. Mesma coisa para outros cursos, tanto faz licenciatura ou bacharelado. Os professores não reclamaram quando o Governo começou a exigir o diploma de graduação. Por quê? Porque todos sabiam da importância que isso teria para qualificar a educação brasileira. E no caso do jornalismo é diferente?
E eu não considero a redução da base salarial dos jornalistas, tendo em vista que esses não-graduados consideram receber baixa remuneração para poderem entrar no mercado, como a grande preocupação a ser pontuada. Isso talvez, em meio a todas as outras desvantagens, seja a menos grave, tendo em vista que o bom profissional terá seu salário garantido (mesmo que aqui na Bahia não se pague muito bem).
Quero deixar claro que não sou contra a criação de blogs ou os outros meios de liberdade da escrita, mas sou contra pessoas leigas exercerem a função de jornalista em um meio oficial, como sites de notícias, jornais, revistas, TV e rádio. A profissão tem que ser levada a sério e, se houver a decisão favorável ao uso do diploma, será um grande passo a favor da qualificação jornalística e, consequentemente, a favor da cultura e informação dos brasileiros.
Adson Sá é formado em Comunicação pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e Editor-Chefe da Revista Única
Um dos principais clichês no que se refere ao jornalismo é que “a imprensa é o quarto poder”. Logo atrás do Executivo, Legislativo e Judiciário. O motivo para tal força é a capacidade de formar opiniões, derrubar gigantes e construir um castelo onde não havia nada. Metáforas que simbolizam muito bem a profissão jornalística e o seu alcance.
A obrigatoriedade do diploma, que é uma ação que se discute há muito tempo e talvez agora se torne real, serve como forma de regularizar a profissão, transmitir respeito – pela qualidade -, porque, desculpe-me os não-formados, mas tem muitos “jornalistas” que não sabem escrever um parágrafo inteligível, e selecionar os profissionais.
O processo acadêmico leva o estudante a conhecer as teorias e as suas aplicabilidades na prática, promove o conhecimento que é essencial para que se consiga exercer a profissão de maneira séria e consciente. Creio que é por esse motivo que, nos últimos anos, muitos não-formados estão procurando fazer um curso de graduação.
Defendo a obrigatoriedade do diploma e defronto alguns argumentos que li recentemente na mídia que são contra esse progresso da imprensa brasileira.
DefesaÉ claro que na faculdade de jornalismo nem todos serão bons profissionais, como ocorre também em outros cursos, como Direito, Física, Letras e até cursos de saúde, em que o erro pode ser fatal (e eu considero o erro jornalístico também uma catástrofe). No entanto é fundamental o estudo aprofundado da atividade que você vai exercer, as experiências empíricas promovidas pela Universidade, os debates, as tentativas e os erros. Isso tudo é feito no período acadêmico, e assim reduziria consideravelmente as besteiras jornalísticas que estamos habituados a ver, onde é perceptível a falta de bom-senso e compromisso com o leitor.
Li também que antigamente não existia cursos de jornalismo e mesmo assim já havia a imprensa, e alguns meios de comunicação com qualidade. Certo, argumento interessante. Mas quantos cursos de graduação havia mesmo na época remota dos anos 70? Quantos cursos surgiram nos últimos 20 anos devido à necessidade de se criá-los? Seguindo essa linha de raciocínio, penso que nenhum curso deveria surgir a partir dessa época, porque são todos irrelevantes. Desculpem-me os engenheiros ambientais, os biomédicos, os engenheiros de alimentos, entre outros diversos cursos que vimos e concordamos que realmente foi necessário existirem.
Os meios de comunicação vêm evoluindo tecnologicamente nos últimos anos, principalmente após o advento da internet. Há facilidades no processo gráfico, de impressão, de transmissão (como nas TVs e rádios), entre outros fatores que fazem surgir também novos produtos, mais profissionais, e uma falta de controle da qualidade desses meios que interferem diretamente na cultura e informação da população. A graduação surge como a base crucial desse crescimento, promovendo - que no pior dos casos seria um trabalho mediano - a evolução qualificada da comunicação, tanto na prática, quanto em pesquisas.
Argumentar que “em países como EUA, Inglaterra, entre outros, não possuem obrigatoriedade de diploma para jornalismo” é uma grande precipitação, porque em países de primeiro mundo como EUA, França, Inglaterra, Suécia, onde a população analfabeta é inferior a 10%, talvez não haja necessidade de diplomas para se exercer o jornalismo. Porém, no Brasil onde o analfabetismo funcional atinge 21,6% da população brasileira, segundo levantamento feito pelo PNAD 2006, que somados aos 10% da população que é totalmente analfabeta, chega a um total de 31,6% da população do país que não possui o domínio da leitura, da escrita de das operações matemáticas, sejam necessárias adotar outras medidas. Nesse caso as comparações são absurdas. Isso sem contar a qualidade das escolas de base e outros fatores relevantes para educação.
Mas vamos olhar pelo lado positivo. Quantas vezes o Brasil deu o pontapé inicial e estipulou conceitos acatados por outros países? Ruim para eles que não possuem a lei. Essa é uma decisão de vanguarda e não é porque meu vizinho sai com um pitbull sem coleira que eu vou sair com o meu também. Cada nacionalidade tem sua precisão e a nossa, para se qualificar, manter o profissionalismo e o respeito do jornalismo é imprescindível que haja essa mudança.
No entanto, também argumentam que o que é fundamental para se exercer o jornalismo não se aprende na Universidade/Faculdade. Concordo plenamente que o jornalista tem que ter algumas virtudes próprias, como a curiosidade, o “faro jornalístico”, gostar de escrever. Nesse caso, eu indico a esses indivíduos que entrem no curso de jornalismo e se aprofundem na área, porque na academia ele vai ser lapidado até estar pronto para o mercado de trabalho. Mas se tal pessoa já adentrar na profissão sem ao menos saber o que ela é e qual “poder” ela tem, será um grande fardo até realmente estar pronto para o trabalho. E repito, os erros jornalísticos são uma catástrofe.
É como eu, tendo boas características para me tornar advogado, começo a exercer a profissão sem passar pela Academia. Ler os livros, a Constituição e pronto. Posso advogar. Claro que não. Eles têm um Conselho (OAB), e antes disso, tem que passar, no mínimo, pelos 5 anos do curso de Direito. Mesma coisa para outros cursos, tanto faz licenciatura ou bacharelado. Os professores não reclamaram quando o Governo começou a exigir o diploma de graduação. Por quê? Porque todos sabiam da importância que isso teria para qualificar a educação brasileira. E no caso do jornalismo é diferente?
E eu não considero a redução da base salarial dos jornalistas, tendo em vista que esses não-graduados consideram receber baixa remuneração para poderem entrar no mercado, como a grande preocupação a ser pontuada. Isso talvez, em meio a todas as outras desvantagens, seja a menos grave, tendo em vista que o bom profissional terá seu salário garantido (mesmo que aqui na Bahia não se pague muito bem).
Quero deixar claro que não sou contra a criação de blogs ou os outros meios de liberdade da escrita, mas sou contra pessoas leigas exercerem a função de jornalista em um meio oficial, como sites de notícias, jornais, revistas, TV e rádio. A profissão tem que ser levada a sério e, se houver a decisão favorável ao uso do diploma, será um grande passo a favor da qualificação jornalística e, consequentemente, a favor da cultura e informação dos brasileiros.
Adson Sá é formado em Comunicação pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e Editor-Chefe da Revista Única
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