quarta-feira, 14 de abril de 2010

Tancredo Neves: um político inesquecível


*Por Joseana Almeida

Existem acontecimentos que marcam a história de um país. Quem não se lembra do povo brasileiro clamando por Diretas Já? E da emoção que sentimos ao saber que teríamos um presidente civil após o golpe de 1964? Vale salientar, que o cenário político naquele período, passava por uma verdadeira efervescência, e a historicidade dos fatos contribuiu de forma determinante para a consolidação da candidatura do Dr.Tancredo de Almeida Neves para Presidente da República, sendo eleito pelo voto indireto de um Colégio Eleitoral.

A idéia que movia cada cidadão brasileiro naquele momento histórico, era de que, o Brasil seria outro nas mãos desse mineiro de São João Del Rey. Ele seria a esperança, a “válvula de escape” para a retomada dos valores democráticos. E lá estava ele! Soberano, emanando força, expressando com propriedade aquilo que o povo gostaria de ouvir para aplaudi-lo: “O Brasil de nossos dias não admite nem o exclusivismo do governo nem da oposição. Governo e oposição, acima dos seus objetivos políticos, têm deveres inalienáveis com o nosso povo”.

Tancredo dedicou-se à política com zelo, dedicação, como se estivesse acolhendo uma criança. Legislou e governou conciliando, articulando, sem ser um visionário, mostrando as suas habilidades e o seu verdadeiro compromisso com a política. Atuou com polidez e moderação, aglutinando forças, traçando metas, provocando debates, ganhando o respeito de diferentes forças partidárias e do povo. Seguiu uma linha pragmática sem confrontos, respeitando as diferenças, sem desvincular-se dos seus princípios, ressaltando: “De Norte a Sul do Brasil, estou pregando, em praça pública, a Unidade Nacional. Prego a concórdia, a construção do futuro, e não me prendo aos pesadelos do passado”.

Na sua concepção, o bem estar da coletividade era a equidade da democracia. E proclamava: “O povo é a substância da República, como prova a raiz latina da palavra. A República deve, pois, ser o compromisso fundamental do Estado para a solução dos problemas do povo, o atendimento de suas necessidades básicas de sobrevivência”. Mais adiante, apregoava com veemência: “Nação sem constituição oriunda do coração de seu povo é nação mutilada na dignidade cívica, violentada na sua cultura e humilhada em face de sua consciência democrática”.

Foi um político impulsionado pelo dever da sua consciência, com uma visão ampla e irrestrita dos valores da soberania popular, que evidenciava com transparência a oposição que tinha feito ao movimento de 1964, deixando explicito: “que no seu ideário político o valor absoluto da vida é a liberdade”. E por força de um dever maior concluiu: “As alvoradas da liberdade não surgem como um acontecimento natural. As manhãs da liberdade se fazem com vigília corajosa dos homens que exorcizam com sua fé os fantasmas da tirania”. Tancredo foi o presidente, que os brasileiros não tiveram a felicidade de festejar a sua posse. Inevitavelmente, partiu par
a a eternidade, mas, sua história política o fez assim: um político inesquecível.

*Joseana Almeida é Jornalista

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